terça-feira, 30 de agosto de 2011

Vicente Joaquim Ferreira Pastinha - Mestre Pastinha. (III)

Interessante notar a intensidade do trabalho do Mestre Pastinha, seu legado. Aprecie a dimensão da semente plantada por Pastinha para a Capoeira Angola e conheça seus discípulos. Hoje muitos são grandes mestres:



Click na imagem para ampliar

Vicente Joaquim Ferreira Pastinha - Mestre Pastinha. (II)

Vamos assistir a quatro vídeos de Mestre Pastinha (e seus discípulos):







Vicente Joaquim Ferreira Pastinha - Mestre Pastinha. (I)

Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha nasceu em Salvador, no dia 5 de abril de 1889, quase um ano após a proclamação da lei Auréa (13 de maio de 1888), mas ainda nos últimos momentos da monarquia no Brasil antes da proclamação da República (15 de novembro, 1889). Veio a falecer na minguá em 13 de novembro de 1981.

Nesta postagem vamos explorar alguns depoimentos dados pelo Mestre Pastinha à Revista Realidade (Ano I, número 11, Fevereiro de 1967) com texto de Roberto Freire e fotos de Davi Drew Zingg. (Leia a reportagem completa aqui!)

No tempo dessa reportagem Mestre Pastinha contava com 77 anos e já apresentava problemas de cegueira. O artigo transcreve um importante depoimento do capoeirista baiano, podendo ser o depoimento inícial da biografia que queremos fazer aqui.


Apesar de extensa, vale a pena conhecer Mestre Pastinha por ele mesmo:

“Esses dois [João Grande e João Pequeno] aprenderam com a Academia mas eu aprendi com a sorte. Quando tinha uns 10 anos – eu era franzininho – um outro menino mais taludo que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua – ao na venda fazer compra, por exemplo – e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido, de vergonha e tristeza. Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu caxuã que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso o que o velho me disse e eu fui. Então ele me ensinou a jogar capoeira, tudo dia um pouco, e aprendi tudo. Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando de vargarzinho ele sabedor do que você sabe.  Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito. O velho africano chamava-se mestre Benedito, era um grande capoeirista e quando me ensinou o jogo tinha mais idade do que eu hoje”.


“Aos 12 anos, em 1902, eu fui para a Escola de Aprendiz de Marinheiro. Lá ensinei capoeira para os colegas. Todos me chamavam de 110. Sai da Marinha com 20 anos. Vida dura, difícil. Por causa de coisas de gente moça e pobre, tive algumas vezes a Polícia em cima de mim. Barulho de rua, presepada. Quando tentavam me pegar eu lembrava de mestre Benedito e me defendia. Eles sabiam que eu jogava capoeira, então queriam me desmoralizar na frente do povo. Por isso, bati alguma vez em polícia desabusada, mas por defesa da minha moral e do meu corpo”.

“Naquele tempo, de 1910 a 1920, o jogo era livre. Passei a tomar conta de casa de jogo. Para manter a ordem. Mas, mesmo sendo capoeirista, eu não me descuidava de um facãozinho de doze polegadas e de dois cortes que sempre trazia comigo. Jogador profissional daquele tempo andava sempre armado. Assim, quem estava no meio deles sem arma nenhuma bancava o besta. Vi muita arruaça, algum sangue, mas não gosto de contar casos de briga minha. Bem, mas só trabalhava quando minha arte negava sustento. Além do jogo, trabalhei de engraxate vendia gazeta, fiz garimpo, ajudei a construir o porto de Salvador. Tudo passageiro, sempre quis viver da minha arte. Minha arte é ser pintor, artista”.

“Foi em 1941 que minha vida mudou. Foi na Ladeira da Pedra, fim da Liberdade, no bairro da Gingibirra. Um ex-aluno meu, de nome Aberre, bom capoeirista, já morto, me convidou para apreciar uma roda de capoeira. Na rida só tinha mestre. O mais mestre dos mestres era Amorzinho, um guarda civil. No apertar da mão me ofereceu tomar conta de uma Academia. Eu dei uma negativa, mas os mestres todos insistiram. Confirmavam que eu era o melhor para dirigir a Academia e conservar pelo tempo a capoeira de Angola. Fundei então o Centro Esportivo de Capoeira de Angola, em 1941, e registrei a Academia em 1952. Botei carteira para capoeiristas. Meus meninos são diplomados”.

“Saem daque sabendo tudo. Sabendo que a luta é muito maliciosa é cheia de manhas. Que a gente tem de ter calma. Que não é uma luta atacante, ela espera, Capoeirista bem tem obrigação de chorar no pé do seu agressor. Está chorando, mas os olhos e o espírito estão ativos. Capoeirista não gosta de abraço e aperto de mão. Melhor desconfiar sempre das delicadezas. Capoeiristas não dobra um esquina de peito aberto. Tem de tomar dois ou três passos a esquerda ou á direita para observar o inimigo. Não entra pela porta de uma casa onde tem corredor escuro. Ou tem com o que alumiar os esconderijos da sombra ou não entra. Se está na rua e vê que está sendo olhado, disfarça, se volta rasteiro e repara de novo no camarada. Bom, se está olhando ainda, é inimigo e o capoeirista se prepara para o que der e vier”.

“Capoeira de Angola só pode ser ensinada sem forçar a naturalidade da pessoa, o negócio é aproveitar os gestos livres e próprios de cada qual. Ninguém luta do meu jeito, mas no deles há toda a sabedoria que aprendi. Cada um é cada um”.

Capoeira em Imagens - I (Série Gravuras Carybé)

Um celebre artista argentino, mas que se considerava baiano, Carybé pintou o cotidiano da Bahia do século XX. Em meio a  um extenso trabalho, retratou a capoeira. Trago a aqui, vinte e quatro desenhos que foram publicados na coleção Recôncavo, n. 03 com o título de "Jogo da Capoeira", de 1951. Não há nenhum título ou descrição nas imagens. Somente as imagens, seguidas uma a uma:






 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Estudo sobre Cantos da Capoeira - III

Antes de continuarmos com Waldeloir Rego, vamos fazer uma pausa e apreciar as palavras sobre cantos da capoeira retiradas da obra de n. 03  da coleção Recôncavo, "Jogo da Capoeira" de 1951. Ela foi escrita, e contêm 24 desenhos, por Carybé. Obras que iremos explorar em outros momentos, mas por enquanto vamos ao estudo dos cantos. Nesta obra Carybé transcreve um conta que demonstra bem a questão do diálogo indicado por Valdeloir.
Segundo a obra, a Bahia teria contribuído muito com a parte musical introduzindo instrumentos, mas também inventou cantigas e deu regras ao jogo:

"A Bahia muito contribuíu, na parte musical, introduzindo o pandeiro, o caxixi e o réco-réco,em substituição das palmas; e o berimbau de barriga com corda de aço, com voz mais sonora e muto mais recursos que o de bôca.
Inventou cantigas e deu regas ao jôgo que começa com as chulas de fundamento tiradas pelo mestre:

           Sinhazinha que vende ai?
           Vendo arroz do Maranhão
           Meu sinhó mandô vendê
           Na terra de Salomão.

     Aruandê

O coro responde:

          ê, ê
         Aruandê
         Camarado

     Galo cantô

         ê, ê
         galo cantô
         Camarado  

     Cocôrocô

         ê, ê
         cocôrocô
         Camarado


     Goma de engomá

         ê, ê
         goma de engomá
         Camarado


     Ferro de matá

         ê, ê
         ferro de matá
         Camarado

     É faca de ponta

         ê, ê
         faca de ponta
         Camarado

     Vamos embora

         ê, ê
         vamos embora
         Camarado


     Pro mundo afóra

         ê, ê
         pro mundo afóra
         Camarado


     Dá volta ao mundo



         ê, ê
         dá volta ao mundo
         Camarado

(...)

Muitas das chulas de fundamento contam façanhas e feitos dos mestres que têm assim trovadores cantando suas glórias, não na voz lânguida dos aludes mas no som rouco dos berimbaus e na pancada do caxixi.". 

domingo, 28 de agosto de 2011

Estudo sobre Cantos da Capoeira - II

Vamos começar com "O Canto", capítulo VIII da obra de Waldeloir Rego. Uma prudente advertência é termos consciência que esta obra é datada, 1968. Estamos há 43 anos da sua publicação, apesar de sua enorme importância para os estudos sobre a capoeira esse tempo deve ser levada em conta. A obra pode ser entendida como constituidora de uma memória sobre o que entendemos ser capoeira. 
Sua abordagem sobre cantos e cantigas faz uma advertência: "é por demais perigoso se tentar distinguir cantiga de capoeira antiga da atual e, de um modo geral, cantiga de capoeira propriamente dita e cantiga de procedência outra, cantada no jogo de capoeira". A confusão passaria em considerar as cantigas antigas pelas modernas e vice-versa, e por considerar cantigas de capoeira, as que não são. Talvez, hoje em dia, seja mais fácil determinar as cantigas cantadas nas rodas do tempo do autor e que ainda são, das músicas escritas atualmente, já que muitas foram gravadas em CD´s e atendem mais ao mercado criado pela proliferação de grupos e escolas de capoeira pelo mundo.
Feita a advertência, o autor caracteriza os cantos e cantigas da capoeira:

"De um ponto de vista amplo, a cantiga de capoeira tanto pode ser o enaltecimento de um capoeirista que se torno herói pelas bravuras que fiz quando em vida, como pode narrar fatos da vida quotidiana, usos, costumes, episódios históricos, a vida e a sociedade na época da colonização, o negro livre e o escravo na senzala, na praça e na comunidade social, sua atuação na religião, no folclore e na tradição. Louvam-se os mestres de capoeira e evocam-se as terras de África da onde procederam. Fenômeno importante a se observar em boa parte das cantigas de capoeira é o diálogo. Não é o diálogo normal entre duas pessoas presentes, mas o entre uma pessoa humana presente e outra pessoa ou coisa ausente, onde a indicações são feitas e respondidas por uma só pessoa". (Rego, 89-90)

O que parece mais interessante nessa caracterização é o fenômeno do diálogo. O encontramos também no jogo, na expressão dos movimentos de defesa e ataque sincronizados durante a luta, em que o padece aquele que não responder a altura o movimento de seu oponente. Um ataque, uma pergunta que requer uma resposta de seu adversário. 
Encerra o capitulo com a transcrição de várias cantigas que colheu de mestres e de seus alunos. Aqui vale lembrar que a obra é datada, ou seja, que a pesquisa feita por Valdeloir também é datado. Além da vasta bibliografia usada pelo autor, também é relevante o contato que teve com os capoeiristas da época.  O que leva a questão: Quem eram esses capoeiras? Pergunta importante que pode ajudar não a distinguir as cantigas antigas das modernas, mas estas das nossas contemporâneas.
Para encerrar esta postagem selecionei algumas cantigas colhidas por Valdeloir:

Eu vô dizer a meu sinhô
Qui a mantêga derramô
A mantêga não e minha
A mantêga é do sinhô
Eu vô dizê a meu sinhô
Qui a mantêga derramô
A mantêga não é minha
A mantêga é de yayá.

Doralice
Não me pegue
0 não, não pegue
Não me pegue
No meu coração
O Doralice
Não , não me pegue
Não me pegue não.

Esta cobra te morde
Sinhô São Bento
Oi o bote da cobra
Sinhô São Bento
Oi a cobra mordeu
Sinhô São Bento
O veneno da cobra
Sinhô São Bento
Oi a casca da cobra
Sinhô São Bento
O que cobra danada
Sinhô São Bento
O que cobra marvada
Sinhô São Bento
Buraco velho
Sinhô São Bento
Tem cobra dentro
Sinhô São Bento
Oi o pulo da cobra
Sinhô São Bento
E cumpade.



Minino quem foi seu meste
Meu meste foi Salomão
Andava de pé pra cima
Cum a cabeça no chão
Fui dicipo qui aprende
Qui in meste eu dei lição
O segredo de São Cosme
Quem sabe é São Damião


Stava in casa
Sem pensá, sem maginá
Salomão mandô chamá
Pra ajudá a vencê
Esta batalha liberá
Eu que nunca viajei
Nem pretendo viaja
Dê meu nome eu vô
Pro sorteio militá
Quem não pode não intima
Deixe quem pode intimá
Quem não pode com mandinga
Não carrega patuá.

sábado, 27 de agosto de 2011

Estudo sobre Cantos da Capoeira - I

Estou escrevendo um canto de capoeira. Já comecei, mas antes de apresentar para a comunidade da capoeiragem meus surtos de criatividade considero importante propor um debate sobre canto e cantigas da capoeira. Desta foma, considero leitura obrigatório para abordar esse assunto a obra de Waldeloir Rego, Capoeira Angola, ensaio sócio-etnográfico de 1968.

Está obra esta escassa e os exemplares a venda são muito caros. Como desconheço a existência de uma nova edição,  segue um link para que todos possamos ter acesso: Click e leia, vale a pena.

Bem, mas não só de uma leitura que faremos um estudo sobre cantos da Capoeira. Assim, durante o processo de estudo novos trabalhos serão citados/selecionados. 

Mas você pode se perguntar o porque de se estudar os cantos da capoeira. Não seria somente canta-los e pronto!
Não, é claro que não. Devemos buscar os seus significados, seus sentidos e ensinamentos. Então mãos a obra.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Evento no espaço do Contra Mestre Danny - I.

No dia 08/07/2011, ocorreu uma feijoada no espaço CDHU - PADRE ANCHIETA do Contra Mestre Danny. Participaram os Contra Mestres Guga, Ivens e Valmir de Campinas/SP, e também Fabio Formigão de São Paulo/SP. Todos da escola de Mestre Jogo de Dentro: Sementes do Jogo de Angola. O encontro recebeu ainda a visita do prof. Jubileu e amigos, discípulos udo Mestre Zequinha da escola Raiz de Angola. Todos trouxeram seus alunos. 

O axé foi mágico e a feijoada somente lembrada pelos capoeiristas, depois de cerca de três horas e meia de roda, porque a cozinheira começou a chamar.

Logo abaixo disponibilizo para todos algumas imagens da roda:

Abertura do evento: Contra Mestre Danny faz as honras.
Bateria: Danny, Ivens, Jubileu, Brun , Brisa, eu, Parmênides, Guga.





Agora algumas imagens da minha participação:





Depois da vadiagem, o carinho do filhão.
Imagens do finalzinho da roda:





Imagens de meus convidados:


Roberto, minha irmã Elaine e meu filhote Nicolas.

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